quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Memória - O Que é Desenraizamento

Ecléa Bosi apresenta no livro O Tempo Vivo da Memória, 4 estudos sobre os escritos da filósofa francesa Simone Weil. Ecléa traça um paralelo entre a realidade brasileira e os escritos de Simone Weil sobre o Desenraizamento.

Para Simone Weil, o ser humano possui raízes pela sua participação na sociedade, quando se mantém preservados valores que estão no passado (memória), e pressentimentos para o futuro.
O desenraizamento acontece quando uma cultura, um povo, uma nação, perde suas raízes. A memória e a tradição podem ser suprimidas pela colonização, pela dominação de uma cultura sobre a outra, pela dominação econômica de uma região sobre outra, etc.   Ecléa exemplifica que no Brasil, a conquista colonial acontece sob as formas de monocultura e pastagens. O arrozal em Goiás foi avançando de forma de tão vertiginosa, que fez o lavrador entrar em processo de migração para o sul. A migração causa desenraizamento, o trabalhador migrante não tem mais a terra para cuidar. Na cidade grande, a sua fala é chamada de “código restrito”, assim como a sua religião é vista apenas como uma crendice ou folclore.


Desenraizamento Operário

O migrante é obrigado a trabalhar nas indústrias, que criam formas tecnicistas  e repetitivas, por si só desenraizantes. O trabalhador não tem consciência da finalidade daquilo que produz, experimentando a sensação da não consciência, do não existir. Ele vira um complemento da máquina, e todo o sentimento de identidade pessoal e recompensa pelo mérito aprendidos na escola, é perdido.
Assim como o trabalho operário, o desemprego também é desenraizante. Simone Weil exemplifica  o caso do proletariado alemão, que era o mais avançado da europa em termos de consciência.  O desemprego provoca o desgaste, acaba com a disposição dos trabalhadores projetarem um futuro melhor para si e para sua classe. Muitos desses trabalhadores foram os primeiros a irem para os campos de concentração . 
“O desenraizamento por excelência é a ignorância do trabalhador em relação ao destino das coisas que fabrica. Qual seu valor e utilidade social? A que necessidades humanas ele atende? O que os  outros homens devem agradecer-lhe? (Ecléa Bosi, 2003).






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