Ecléa Bosi
apresenta no livro O Tempo Vivo da Memória, 4 estudos sobre os escritos da filósofa
francesa Simone Weil. Ecléa traça um paralelo entre a realidade brasileira e os
escritos de Simone Weil sobre o Desenraizamento.
Para
Simone Weil, o ser humano possui raízes pela sua participação na sociedade,
quando se mantém preservados valores que estão no passado (memória), e
pressentimentos para o futuro.
O
desenraizamento acontece quando uma cultura, um povo, uma nação, perde suas
raízes. A memória e a tradição podem ser suprimidas pela colonização, pela
dominação de uma cultura sobre a outra, pela dominação econômica de uma região
sobre outra, etc. Ecléa exemplifica que no Brasil, a conquista
colonial acontece sob as formas de monocultura e pastagens. O arrozal em Goiás
foi avançando de forma de tão vertiginosa, que fez o lavrador entrar em
processo de migração para o sul. A migração causa desenraizamento, o
trabalhador migrante não tem mais a terra para cuidar. Na cidade grande, a sua
fala é chamada de “código restrito”, assim como a sua religião é vista apenas
como uma crendice ou folclore.
Desenraizamento
Operário
O migrante
é obrigado a trabalhar nas indústrias, que criam formas tecnicistas e repetitivas, por si só desenraizantes. O trabalhador
não tem consciência da finalidade daquilo que produz, experimentando a sensação
da não consciência, do não existir. Ele vira um complemento da máquina, e todo
o sentimento de identidade pessoal e recompensa pelo mérito aprendidos na
escola, é perdido.
Assim como
o trabalho operário, o desemprego também é desenraizante. Simone Weil
exemplifica o caso do proletariado
alemão, que era o mais avançado da europa em termos de consciência. O desemprego provoca o desgaste, acaba com a
disposição dos trabalhadores projetarem um futuro melhor para si e para sua
classe. Muitos desses trabalhadores foram os primeiros a irem para os campos de
concentração .
“O desenraizamento por excelência é a ignorância
do trabalhador em relação ao destino das coisas que fabrica. Qual seu valor e
utilidade social? A que necessidades humanas ele atende? O que os outros homens devem agradecer-lhe? (Ecléa
Bosi, 2003).
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