quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

MEMÓRIA - CULTURA E DESENRAIZAMENTO

CULTURA E DESENRAIZAMENTO

O enraizamento só se dá quando o indivíduo tem uma participação coletiva com valores no passado (memória), e perspectivas no futuro. Durante a Revolução Russa, o brado do povo era: “A terra para os camponeses”. Essa palavra de ordem enraizou os camponeses no processo revolucionário, porque apelava para um passado verdadeiro. Em contraponto, quando Hitler tentou incentivar o povo no mito do arianismo, tal ato não foi enraizador porque não se baseava em um passado verdadeiro.
Ecléa Bosi (2003) cita o Japão como exemplo de país com uma tradição antiga que não conseguiu enraizar seu povo. A industrialização desfigurou a natureza, com os mares envenenados e as cidades poluídas, mas a tradição não socorreu o povo.
Com o capitalismo, valores antigos, religiosos e artísticos se transformam em mercadoria para o turismo e propagandas para TV. Para Oscar Lewis (1947), o capitalismo consome e desagrega valores alcançados pelo coletivo, esvaziando o sentido das lembranças e aspirações.


DIVULGAÇÃO DA CULTURA

As populações desenraizadas são consideradas aculturadas. Daí se dá o processo de divulgação da chamada cultura de elite. O processo de divulgação comporta duas correntes: a primeira é que o povo deve apreender essa cultura e absorver os padrões oferecidos. A diversidade presente nas massas também é aproveitada pela elite. O chamado folclore para o consumidor de cultura: regionalismo nos EUA, a imagem do nordestino, o caipira, etc. A outra corrente acredita que é do povo que vem a salvação e procura lhe fornecer os meios para que ele salve a sociedade. A cultura está cada vez mais sob o domínio dos chamado “arqueólogos da tradição”. O conhecimento é detido dentro da universidade, como um privilégio, o que é criticado por Ecléa Bosi. A linguagem com a qual a cultura elitizada é estudada restringe a sua divulgação, para apenas enriquecimento de seus pesquisadores intelectuais.  Obras de arte, como Van Gogh, são utilizadas para obter status. No mundo capitalista, não se pensa a arte e cultura como os gregos e os povos da antiguidade pensavam. Simone Weil acredita que é preciso uma divulgação da cultura com uma linguagem acessível a todas as massas, e não só aos pesquisadores e arqueólogos da tradição, para que ela seja não só um objeto de enriquecimento intelectual,  mas uma forma de pensar a sociedade com o pensamento crítico. Muitas das nossas indagações são as mesmas dos povos antigos,  só que a preservação da memória se perdeu em detrimento do capitalismo.

Baseado no texto da autora Ecléa Bosi, no livro "O Tempo Vivo da Memória". (2003).

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