CULTURA E
DESENRAIZAMENTO
O
enraizamento só se dá quando o indivíduo tem uma participação coletiva com
valores no passado (memória), e perspectivas no futuro. Durante a Revolução
Russa, o brado do povo era: “A terra para os camponeses”. Essa palavra
de ordem enraizou os camponeses no processo revolucionário, porque apelava para
um passado verdadeiro. Em contraponto, quando Hitler tentou incentivar o povo
no mito do arianismo, tal ato não foi enraizador porque não se baseava em um
passado verdadeiro.
Ecléa
Bosi (2003) cita o Japão como exemplo de país com uma tradição antiga que não
conseguiu enraizar seu povo. A industrialização desfigurou a natureza, com os
mares envenenados e as cidades poluídas, mas a tradição não socorreu o povo.
Com
o capitalismo, valores antigos, religiosos e artísticos se transformam em
mercadoria para o turismo e propagandas para TV. Para Oscar Lewis (1947), o
capitalismo consome e desagrega valores alcançados pelo coletivo, esvaziando o
sentido das lembranças e aspirações.
DIVULGAÇÃO
DA CULTURA
As
populações desenraizadas são consideradas aculturadas. Daí se dá o processo de
divulgação da chamada cultura de elite. O processo de divulgação comporta duas correntes: a
primeira é que o povo deve apreender essa cultura e absorver os padrões
oferecidos. A diversidade presente nas massas também é aproveitada pela elite.
O chamado folclore para o consumidor de cultura: regionalismo nos EUA, a imagem
do nordestino, o caipira, etc. A outra corrente acredita que é do povo que vem
a salvação e procura lhe fornecer os meios para que ele salve a sociedade. A
cultura está cada vez mais sob o domínio dos chamado “arqueólogos da tradição”.
O conhecimento é detido dentro da universidade, como um privilégio, o que é
criticado por Ecléa Bosi. A linguagem com a qual a cultura elitizada é estudada
restringe a sua divulgação, para apenas enriquecimento de seus pesquisadores
intelectuais. Obras de arte, como Van
Gogh, são utilizadas para obter status. No mundo capitalista, não se pensa a
arte e cultura como os gregos e os povos da antiguidade pensavam. Simone Weil
acredita que é preciso uma divulgação da cultura com uma linguagem acessível a
todas as massas, e não só aos pesquisadores e arqueólogos da tradição, para que
ela seja não só um objeto de enriquecimento intelectual, mas uma forma de pensar a sociedade com o
pensamento crítico. Muitas das nossas indagações são as mesmas dos povos
antigos, só que a preservação da memória
se perdeu em detrimento do capitalismo.
Baseado no texto da autora Ecléa Bosi, no livro "O Tempo Vivo da Memória". (2003).
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