A memória do trabalho manual de Gandhi: A roda de fiar
Gandhi perguntou uma vez:
“De que tipo de serviço, as centenas de milhares de homens que povoam a Índia têm maior carência na época atual? Qual é aquele que pode ser facilmente compreendido e executado e que, ao mesmo tempo, auxiliaria a viver as multidões de meus compatriotas esfomeados?”
O próprio Gandhi respondeu: trabalho manual. Na preparação para a
militância, o trabalho manual foi uma das maiores armas do Mahatma para combater o Imperialismo inglês. A formação política,
segundo Gandhi, propicia mediante esse treinamento corporal (que também é
espiritual) e promove a libertação da servidão terrestre, a consagração ao serviço do próximo.
O svadeshi, que significa serviço fraterno, poderia ser praticado
através da roda de fiar que produzia o khaddar (tecido feito à mão). Tanto o
svadeshi quanto o khaddar acabaram se tornando um símbolo de independência e de
não-colaboração com as empresas estrangeiras. O svadeshi implicava
a libertação da indústria, do objeto fabricado em série, do artigo estrangeiro,
quando este supõe a desigualdade e a opressão.
A Roda de fiar era a representação de vínculos
que uniam Gandhi ao seu povo. Era o símbolo da luta contra o regime britânico. Não porque o artesanato possa substituir o sistema industrial, o que
seria utópico nas circunstâncias atuais, mas porque o trabalho manual servia,
no caso, de resistência, de combate ao sistema inglês através do trabalho,
da não-violência.
Texto baseado no capítulo "O Trabalho Manual: Uma leitura de Gandhi" do livro "O tempo vivo da memória", de Ecléa Bosi.
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