quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

 A memória do trabalho manual de Gandhi: A marcha do sal



“... Ninguém tinha uma pitada de sal para pôr no arroz simples”. 


Gandhi se referia com isso ao monopólio do sal que o Império Britânico impusera no país. Para combater, ele empreendeu uma longa peregrinação, caminhando 24 dias até o mar. No dia 6 de Abril de 1930, encheu uma chaleira de água marinha, acendeu um fogo com um punhado de gravetos e pôs a ferver. Evaporada a água, recolheu do fundo um punhado de sal. Em todas as praias da Índia, acendeu-se milhares de pequenas fogueiras sob pequenas chaleiras.

O alcance político desse feito causou a prisão de Mahatma, já com 60 anos, e o espancamento e cadeia para seus seguidores, cujo crime consistira em produzir com as próprias mãos um saquinho de sal.


“A única revolução possível é dentro de nós”
 Não é possível libertar um povo, sem antes, livrar-se da escravidão de si mesmo. Sem esta, qualquer outra será insignificante, efêmera e ilusória, quando não um retrocesso. Cada pessoa tem sua caminhada própria.Faça o melhor que puder.Seja o melhor que puder.O resultado virá na mesma proporção de seu esforço.Compreenda que, se não veio, cumpre a você (a mim e a todos) modificar suas (nossas) técnicas, visões, verdades, etc. Nossa caminhada somente termina no túmulo. Ou até mesmo além...Segue a essência de quem teve sucesso em vencer um império...
                                                                                                                 Mahatma Gandhi




 Texto baseado no capítulo "O trabalho manual: Uma leitura de Gandhi" do livro "O tempo vivo da memória", de Ecléa Bosi.


A memória do trabalho manual de Gandhi: A roda de fiar 






Gandhi perguntou uma vez:

“De que tipo de serviço, as centenas de milhares de homens que povoam a Índia têm maior carência na época atual? Qual é aquele que pode ser facilmente compreendido e executado e que, ao mesmo tempo, auxiliaria a viver as multidões de meus compatriotas esfomeados?”

  O próprio Gandhi respondeu: trabalho manual. Na preparação para a militância, o trabalho manual foi uma das maiores armas do Mahatma para combater o Imperialismo inglês. A formação política, segundo Gandhi, propicia mediante esse treinamento corporal (que também é espiritual) e promove a libertação da servidão terrestre, a consagração ao serviço do próximo.

   O svadeshi, que significa serviço fraterno, poderia ser praticado através da roda de fiar que produzia o khaddar (tecido feito à mão). Tanto o svadeshi quanto o khaddar acabaram se tornando um símbolo de independência e de não-colaboração com as empresas estrangeiras. O svadeshi implicava a libertação da indústria, do objeto fabricado em série, do artigo estrangeiro, quando este supõe a desigualdade e a opressão.

  A Roda de fiar era a representação de vínculos que uniam Gandhi ao seu povo. Era o símbolo da luta contra o regime britânico. Não porque o artesanato possa substituir o sistema industrial, o que seria utópico nas circunstâncias atuais, mas porque o trabalho manual servia, no caso, de resistência, de combate ao sistema inglês através do trabalho, da não-violência. 

Texto baseado no capítulo "O Trabalho Manual: Uma leitura de Gandhi" do livro "O tempo vivo da memória", de Ecléa Bosi.

CULTO E ENRAIZAMENTO

CULTO E ENRAIZAMENTO
Canal de Comunicação

As práticas religiosas trazem elementos enraizadores e desenraizadores. Ecléa Bosi atenta para o fato  da divulgação de obras religiosas para as pessoas menos letradas, que ocorrem de forma simplificada, alterando a forma e o conteúdo. Forma clássicas da linguagem bíblica com a tradução de Ferreira de Almeida sofre alterações em expressões que se tornaram provérbios entre os pobres:
- Nem só de pão vive o homem.
-Quem com ferro fere com ferro será ferido.
- Pai afasta de mim este cálice.
- Bém-aventurados os que têm fome de justiça.
Novas versões da bíblia feita para os jovens trazem uma interpretação em forma de comentário, que para Ecléa Bosi distorce, simplifica, tira conotações de natureza moral ao seu bel-prazer.  

A MÚSICA

O canto de natal “Sobe a Jerusalém, Virgem oferente sem igual,
Vai, apresenta ao Pai teu Menino, luz que nasceu no tal”, reverbera em ações religiosas como o Sobe a Jerusalém, que só a mulher do povo conhece. A subida a Jerusalém com um criança no colo é uma forma de enraizamento.

A forma rimada dos versos e a música durante os cultos religiosos são elementos enraizadores, porque preservam a memória. A música é passada de geração a geração, não importando a inovação e as músicas descartáveis geradas pela consumismo. Os velhos se interessam em aprender as músicas novas, mas também querem cantas e transmitir os hinos antigos.

http://www.youtube.com/watch?v=V_RfWCNc9jo Hino da Harpa Cristã Tradicional de Igrejas Cristãs, elemento enraizador religioso.

Identidade Nacional Brasileira: A participação dos meios de comunicação

“As culturas nacionais, ao produzir sentido sobre “a nação”, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas.” (HALL, 1999)

Ter sido formado por diversos grupos étnicos, fez com que o Brasil apresentasse características culturais muito diferentes. Diante de tantas distinções, como construir uma identidade nacional? Segundo Luiza Delamare Quedinho, no seu artigo "A participação da mídia televisiva na construção da identidade nacional"os meios de comunicação de massa vai assegurar que a identidade brasileira seja concebida por todo o território nacional. E, ao conceber as culturas regionais de todo país, o brasileiro constrói um sentimento de pertencimento a identidade do país.

Vale lembrar que os meios de comunicação não são os únicos elementos representacionais da ideia de identidade nacional, mas é um importante veículo de identificação. Isso fica claro quando Quedinho afirma que a televisão, hoje, está presente em 100% do território nacional, já que existem aparelhos de televisão nos 5 560 municípios brasileiros. E, para 80% da população esta é a principal fonte de informação. Por ser tão presente nas casas brasileiras, a televisão influencia (da sua maneira) a forma como o povo se reconhece brasileiro.

Seguem os links de dois programas televisivos de massa, que tem como intuito representar a cultura brasileira:

O quadro do Fantástico, Me Leva Brasil:

* O artigo de Luiza Delamare Quedinho pode ser encontrado no link: 
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1404-2.pdf

MEMÓRIA - CULTURA E DESENRAIZAMENTO

CULTURA E DESENRAIZAMENTO

O enraizamento só se dá quando o indivíduo tem uma participação coletiva com valores no passado (memória), e perspectivas no futuro. Durante a Revolução Russa, o brado do povo era: “A terra para os camponeses”. Essa palavra de ordem enraizou os camponeses no processo revolucionário, porque apelava para um passado verdadeiro. Em contraponto, quando Hitler tentou incentivar o povo no mito do arianismo, tal ato não foi enraizador porque não se baseava em um passado verdadeiro.
Ecléa Bosi (2003) cita o Japão como exemplo de país com uma tradição antiga que não conseguiu enraizar seu povo. A industrialização desfigurou a natureza, com os mares envenenados e as cidades poluídas, mas a tradição não socorreu o povo.
Com o capitalismo, valores antigos, religiosos e artísticos se transformam em mercadoria para o turismo e propagandas para TV. Para Oscar Lewis (1947), o capitalismo consome e desagrega valores alcançados pelo coletivo, esvaziando o sentido das lembranças e aspirações.


DIVULGAÇÃO DA CULTURA

As populações desenraizadas são consideradas aculturadas. Daí se dá o processo de divulgação da chamada cultura de elite. O processo de divulgação comporta duas correntes: a primeira é que o povo deve apreender essa cultura e absorver os padrões oferecidos. A diversidade presente nas massas também é aproveitada pela elite. O chamado folclore para o consumidor de cultura: regionalismo nos EUA, a imagem do nordestino, o caipira, etc. A outra corrente acredita que é do povo que vem a salvação e procura lhe fornecer os meios para que ele salve a sociedade. A cultura está cada vez mais sob o domínio dos chamado “arqueólogos da tradição”. O conhecimento é detido dentro da universidade, como um privilégio, o que é criticado por Ecléa Bosi. A linguagem com a qual a cultura elitizada é estudada restringe a sua divulgação, para apenas enriquecimento de seus pesquisadores intelectuais.  Obras de arte, como Van Gogh, são utilizadas para obter status. No mundo capitalista, não se pensa a arte e cultura como os gregos e os povos da antiguidade pensavam. Simone Weil acredita que é preciso uma divulgação da cultura com uma linguagem acessível a todas as massas, e não só aos pesquisadores e arqueólogos da tradição, para que ela seja não só um objeto de enriquecimento intelectual,  mas uma forma de pensar a sociedade com o pensamento crítico. Muitas das nossas indagações são as mesmas dos povos antigos,  só que a preservação da memória se perdeu em detrimento do capitalismo.

Baseado no texto da autora Ecléa Bosi, no livro "O Tempo Vivo da Memória". (2003).

TEMPOS VIVOS, TEMPOS MORTOS



       Dentro da história cronológica existe a história memorativa. A história cronológica, seria justamente guiada pelo tempo cronológico (segundos, minutos, horas...), e o tempo memorativo, seria o tempo não cronológico, guiado pela percepção. O tempo memorativo é subjetivo, pois varia de pessoa para pessoa e de sensação para sensação. O Tempo Vivo seria aquele aproveitado, que fica guardado na memória, que é especial. Tempo Morto seria aquele considerado desnecessário, que não acrescenta, que você simplesmente perdeu, morto. Fazer uma Viagem para outro país, conhecer outras pessoas, aprender outras línguas, e se aventurar são exemplos de Tempos aproveitados, vivos. Passar horas na fila do banco e no ônibus lotado são exemplos de Tempos Mortos.
      Com o advento da industrialização e consequentemente o desenvolvimento tecnológico, ficou cada vez mais difícil de administrar o tempo (vivo). Hoje existem processos muito burocráticos; passamos muito mais tempo para nos locomover de um ambiente para o outro por conta do número excessivo de transportes nas ruas; internet, jogos, aplicativos tomam nosso tempo; o tempo com a família se tornou reduzido: Tudo isso colabora para o desperdício de tempo...

“A sociedade industrial multiplica horas mortas que apenas suportamos: são os tempos vazios nas filas, dos bancos, da burocracia, preenchimento de formulários...” (BOSI, Ecléa. O TEMPO VIVO DA MEMÓRIA, PAG. 24, 3º PARÁGRAFO. 2004.)

O sujeito como produto social

Se a subjetividade for liberdade e se esta é absoluta, como afirma o existencialismo de Sartre, então só poderia haver um único sujeito livre no mundo. Todos os outros seriam objetos onde o sujeito iria exercer a sua liberdade. Na relação que o outro mantém comigo, a sua liberdade se afirma à medida que a minha se anula: o outro tende a me determinar fazendo de mim um objeto. Muitos estudos sobre comportamento trazem juntos assuntos relacionados à subjetividade e liberdade, como o behaviorismo de Skinner. Skinner sugere que devamos investigar em que condições a vida subjetiva privatizada se desenvolve.
    Segundo Skinner, as experiências subjetivas não são imediatas, são sempre construídas pela sociedade. Tomarmos os outros como objetivos para afirmarmos nossa liberdade e sermos tomados como objeto para a afirmação da liberdade dos outros fazem parte das interações sociais e constróem o nosso "eu". Para Skinner, a crença de que nossas ações têm motivos internos é a última das superstições. A crença de que nossa consciência é a causa determinante de nossas ações deveria ser tratada como um último preconceito ou ignorância para Skinner. Aquilo que aparentemente mais nos pertence não é nosso, é apenas um produto social.
    A falta de essência inicial proposta por Sartre sugere que o sujeito se constrói a partir das experiências de sua vida, ou seja, aprenderá com as suas relações sociais. Interiorizamos o que está fora de nós. O sujeito é uma contínua construção, sempre e ao mesmo tempo, dele e dos outros.

Memória - O Que é Desenraizamento

Ecléa Bosi apresenta no livro O Tempo Vivo da Memória, 4 estudos sobre os escritos da filósofa francesa Simone Weil. Ecléa traça um paralelo entre a realidade brasileira e os escritos de Simone Weil sobre o Desenraizamento.

Para Simone Weil, o ser humano possui raízes pela sua participação na sociedade, quando se mantém preservados valores que estão no passado (memória), e pressentimentos para o futuro.
O desenraizamento acontece quando uma cultura, um povo, uma nação, perde suas raízes. A memória e a tradição podem ser suprimidas pela colonização, pela dominação de uma cultura sobre a outra, pela dominação econômica de uma região sobre outra, etc.   Ecléa exemplifica que no Brasil, a conquista colonial acontece sob as formas de monocultura e pastagens. O arrozal em Goiás foi avançando de forma de tão vertiginosa, que fez o lavrador entrar em processo de migração para o sul. A migração causa desenraizamento, o trabalhador migrante não tem mais a terra para cuidar. Na cidade grande, a sua fala é chamada de “código restrito”, assim como a sua religião é vista apenas como uma crendice ou folclore.


Desenraizamento Operário

O migrante é obrigado a trabalhar nas indústrias, que criam formas tecnicistas  e repetitivas, por si só desenraizantes. O trabalhador não tem consciência da finalidade daquilo que produz, experimentando a sensação da não consciência, do não existir. Ele vira um complemento da máquina, e todo o sentimento de identidade pessoal e recompensa pelo mérito aprendidos na escola, é perdido.
Assim como o trabalho operário, o desemprego também é desenraizante. Simone Weil exemplifica  o caso do proletariado alemão, que era o mais avançado da europa em termos de consciência.  O desemprego provoca o desgaste, acaba com a disposição dos trabalhadores projetarem um futuro melhor para si e para sua classe. Muitos desses trabalhadores foram os primeiros a irem para os campos de concentração . 
“O desenraizamento por excelência é a ignorância do trabalhador em relação ao destino das coisas que fabrica. Qual seu valor e utilidade social? A que necessidades humanas ele atende? O que os  outros homens devem agradecer-lhe? (Ecléa Bosi, 2003).






A Filosofia Cristã

Desde o princípio, o cristianismo sempre buscou se firmar como filosofia. Filosofia essa que tentava responder as questões do mundo através da mistura entre ciência e religião. A filosofia cristã bebeu muito da fonte dos hebreus, com a sustentação da fé e os ensinamentos de Jesus, mas sempre sentiu-se a necessidade de se firmar como pensamento humanamente coerente advindo dos gregos.

Apesar de questionarem a originalidade do pensamento cristão em relação ao grego, podemos citar algumas questões que o diferem, como por exemplo o "Lógos". Para os gregos o "lógos" era um instrumento de conhecimento da realidade em um esforço para encontrar seu lugar no cosmos, já que se entendiam como fazendo parte da natureza. Era o amor, Eros, o desejo que animava a busca para alcançar a virtude máxima, o Bem supremo e a perfeição do inteligível puro, porém inatingível. A esse impulso erótico, contrapõe-se o amor cristão, o Ágape, a caridade, o amor de Deus-criador para com suas criaturas, pois Ele é perfeito e necessário, criou as coisas por causa do Bem que provém Dele, gratuitamente. Deus é o próprio "Lógos", o Verbo que se revela como aquele que é (essencial e existencialmente) como princípio do universo e única fonte de sabedoria e verdade das coisas, dos homens e do mundo que são criadas por vontade de Deus.
Nos primeiros 7 séculos de existência do cristianismo a filosofia vigente foi a Patrística, que teve como principal pensador Santo Agostinho, que tomou o pensamento de Platão como base para seu olhar, para ele para se alcançar o mundo divino (mundo perfeito[mundo das ideias de Platão]), era preciso seguir o caminho da fé. Nesse período foi elaborado a doutrina das verdades de fé do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos "pagãos" e contra as heresias, como também, a difusão, a consolidação e a constituição do cristianismo. É a patrística a filosofia responsável pela elucidação progressiva dos dogmas cristãos e pelo que se chama hoje de Tradição Católica.

Para continuar o trabalho de adequar a herança do pensamento filosófico clássico às verdades teológicas, surge a Escolástica que teve seu auge com São Tomás de Aquino que tenta compatibilizar um sistema com o aristotelismo juntamente com o cristianismo no século XIII. Com a fundamentação no pensamento de Aristóteles, Tomás resgata a metafísica, a lógica, a científica, a filosófica da obra de pensador grego. Uma das principais preocupações dos filósofos medievais era fornecer argumentações racionais, espelhadas nas contribuições dos gregos, para justificar as chamadas verdades reveladas pela igreja, tais como a da existência de Deus, a imortalidade da alma. Nesse período, a Igreja Católica consolidou sua organização religiosa e difundiu o cristianismo, preservando muitos elementos da cultura greco-romana. É a época feudal, em que a Igreja Católica surge como força espiritual, política, econômica e cultura. Nesse período surge propriamente a filosofia cristã, a teologia. Seu tema principal é a prova da existência de Deus e da imortalidade da alma ou seja, a prova racional da existência do criador e do espírito imortal, com o propósito de explicar a relação homem e Deus, razão e fé, corpo e alma, e o Universo como hierarquia de seres, onde os superiores - divinos - dominam os inferiores. Baseados no aristotelismo, os argumentos de São Tomás revalorizam o mundo  natural, pois o mundo natural é criação de Deus. É assim que podemos conhecer Deus: por meio de sua criação, o mundo natural. Isso justifica o interesse pela investigação científica do mundo natural que surge na época e vai transformar a Europa nos séculos seguintes. 

Religião: Futebol.

(...) – Então posso constar no questionário do censo que o senhor é ateu? O senhor se importa?
– Claro que me importo! Não sou ateu. Sigo a minha religião, que é o futebol, como já te disse. É na redondinha que eu acredito. Toda minha fé num gol!
– Bom, o senhor me perdoe novamente. Mas vou ter que constar no levantamento do censo que o senhor não possui religião.
– Meu amigo, você já foi a um jogo de futebol?
– Sim, senhor.
– Mas a um jogo lotado, estádio cheio, torcida vibrando. Já foi?
– Sim, já fui.
– E pelo visto você tem um time, estou certo?
– Sim, tenho.
– E costuma acompanhá-lo sempre, até ir nas partidas você vai.
– Sim, sempre que possível, eu vou.
– E não se importa de pagar ingresso, certo? Mesmo caro do jeito que está.
– Não...
– Então vai me dizer que um negócio que tem templos e milhões de seguidores fiéis não é religião?
– É... Talvez o senhor tenha mesmo razão...(*) (**)

É com esse diálogo que elucidamos algo que está presente não somente aqui no Brasil, mas em grande parte do mundo: o poder Sagrado que o futebol tem. Apesar de bastante controverso, ninguém pode tirar do futebol o valor que ele tem. O valor de dar uma perspectiva de um futuro melhor a milhões de crianças moradoras de locais indignos a vida, o valor de uma ascensão social, o valor da possibilidade de saída da miséria, o valor, nem que seja momentâneo, de um pouco de alegria, ou pelo menos fugir da realidade.

Muita pessoas acompanham seus times de futebol como verdadeiras procissões religiosas, tratam seus uniformes como "mantos sagrados", se enchem de fé para ver seu time ganhar um jogo, fazem promessas aos céus para um título de campeonato, tratam jogadores como verdadeiros deuses. Existe até o termo "deuses do futebol" aqui no Brasil. Já na Argentina, por exemplo, foi criada a Igreja Maradoniana, em homenagem a Armando Diego Maradona, maior futebolista do nosso país irmão. Foi fundada em 1998 na cidade de Rosário. Resolveram considerar a data de nascimento de Maradona como Natal. A partir disto criaram uma igreja com orações e mandamentos, com seguidores cadastrados em vários países. Argentina, Espanha e México são, respectivamente, os países com o maior número de fiéis. A religião tem o tetragrama sagrado, D10S, que mistura a palavra em espanhol para Deus (Dios) com o D de Diego e o 10 da sua camisa. Já no nosso país mãe, Portugal, o jogador Mário Coluna era alcunhado de "Monstro Sagrado". E há outros exemplos espalhados pelo mundo, como a passagem do troféu da Copa do Mundo por lugares quase inóspitos um pouco de felicidade.

 Por fim, podemos citar os amistosos criados para difundir algo bom pelo mundo. Como por exemplo o amistoso que ficou conhecido como o "Jogo da Paz", em 2004, entre a seleção brasileira então campeã do mundo e a seleção do Haiti, local do jogo que sofria com uma guerra civil. E tanto outros jogos de caráter humanistas que aconteceram pelo mundo.

*Título tirado do livro homônimo de cartuns sobre futebol do cartunista e escritor argentino Roberto Fontanarrosa.

**http://www.gazetadopovo.com.br/blog/populares/?id=1094065

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

INVISIBILIDADE PROFISSIONAL

Numa sociedade em que a hierarquia social também é presente no ambiente de trabalho, nota-se que diversos profissionais que contribuem para a manutenção do nosso sistema são simplesmente ignorados e tratados como invisíveis. 

Esse Outro é negado por exercer funções que exigem baixo grau de complexidade/escolaridade e que pessoas das camadas mais altas da sociedade não executariam.

Profissões como gari, zelador, garçom, faxineiro, zelador, porteiro, motorista e cobrador de ônibus, frentistas etc. são exemplos básicos de profissionais presentes no nosso cotidiano que são facilmente ignorados pelas pessoas e que muitas vezes a única característica notada neles é o uniforme vestido.
Baseado nesse contexto, o designer Murilo Bispo criou um trabalho chamado "Persona Invisible" em que ele retrata a forma como alguns profissionais são tratados por grande parte de nossa sociedade.
Segue o link do trabalho:
https://www.behance.net/gallery/Persona-Invisible/8875431

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

“Respeitem Meus Cabelos, Brancos”



A música: “Respeitem Meus Cabelos, Brancos” do cantor e compositor paraibano Chico César, que através da sua música apresenta um discurso forte de fortalecimento da cultura visual e da identidade cultural dos negros. Ao utilizar uma vírgula para separar as palavras cabelo e branco no título da música, Chico Cesar recria uma expressão bastante conhecida no Brasil e demostra uma outra condução interpretativa a expressão, que remete a valorização da cultura afro no Brasil e da luta contra o racismo.
A música tem um “teor” de denuncia, com uma fala político-musical, apresentando atitudes de fortalecimento da identidade visual negra como “pixaim”, assumindo um discurso contra o racismo e de incentivo a atitudes por partes dos brancos em respeito a cultura negra.
"A construção da identidade negra está associada a usos específicos do corpo (negro), e isso a distingue da maioria das outras identidades étnicas. Por um lado, a aparência ‘negra’ e a exibição de gestualidade ‘negra’ têm sido associados a certos comportamentos, empregos e posições sociais. Por outro lado, a aparência física, o porte e os gestos também têm sido o meio pelo qual os negros, como população racializada, reconhecem a si mesmos e, na tentativa de reverter o estigma associado à negritude, tentam adquirir status e recuperar dignidade". (Sansone, 2007, p. 24).
Ao cantar sobre os cabelos, um elemento importante de diferença étnico-racial, o autor da canção apresenta os cabelos como um elemento de valorização da cultura negra, geralmente associado como cabelo "ruim", os cabelos dos negros é um componente que faz parte da estética e se apresenta como uma afirmação da identidade visual e comportamental como uma forma de resistência ao racismo.

Esse tipo de manifestação utilizando a música como discurso promove e preserva a identidade cultural resultante da influência da  raça negra na construção da sociedade brasileira, de maneira a incentivar e  potencializar a participação do negro no processo de desenvolvimento, a partir de sua história e sua cultura.

" A felicidade do negro é uma felicidade guerreira" 
Wally Salomão

Maria Amanda 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Inovação e Articulação


Quando se fala em inovação a primeira coisa que pensamos é na analogia de ressignificar alguma coisa, ou algo que para nós já tenha algum papel ou valor social. Mas não necessariamente a inovação está ligada ao processo de ressignificar, podendo ter uma relação de auto-afirmação, ou simplificação do que já existe por meio de observação do espaço e das relações estabelecidas por práticas sociais.

Para inovar podemos usar da articulação como meio de organizar parte de um processo de desenvolvimento da prática da inovação, visto que “Articular significa: preservando aquilo que faz com que algo seja ele mesmo, encontrar, toda via o modo de apreendê-lo com o outro, de maneira que o lugar da diferença não faça desaparecer a identidade... Nos permite entender a mudança, e a aparência, além da identidade e da realidade. Podemos assim nos situar na multiplicidade das imagens sem perder de vista a unidade da realidade em si mesma.” SILVA, Frank  Leopoldo e. O Outro.

Na compreensão do outro, e das suas relações por meio de articulação, se encontra uma maneira e/ou inspiração para praticar a inovação de forma incremental (melhorando) ou disruptiva (resignificando) algo, dando um novo valor por meio da compreensão dessa interação da marca com o meio, que chamamos de inovação.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A CORRELAÇÃO DA INTERSUBJETIVIDADE NA ALTERIDADE

A questão de Alteridade, ou seja, a relação/interação social entre o Eu e o Outro, é um assunto recorrente que vem sido discutido desde a antiguidade.
Se partimos da idéia que  o sujeito é uma contínua construção que depende, sempre e ao mesmo tempo, dele e dos outros; por isso ele é sempre outro, puro processo, e nunca algo consolidado (Silva, 2012), podemos observar que isso gerará uma crise na subjetividade prizatizada do próprio indivíduo.  O ideal de plena liberdade e individualidade que constituira o indivíduo, não passa de mera ilusão. A partir de agora, a experiência subjetiva do indivíduo será vista como intersubjetiva, pois a maneira como eu interajo e me relaciono com o outro que mostrará o que eu serei.
Emmanuel Lévinas diz que “o outro está sempre diante de mim, e essa presença é tão forte que me constitui. O outro está antes do Eu. A liberdade do Eu então, ocorrerá da responsabilidade de suas ações para com o outro, ou seja, deve-se verificar se suas atitudes correspondem às necessidades de outrem. E tal ação não precisa ser recíproca já que o que se deve considerar é o princípio ético de alteridade.
A relação de intersubjetividade se torna o fator mais importante na interação entre o Eu e o outro. Para que isso aconteça, há também que superar o solipsimo, quer dizer, abandonar a idéia de interiorização do Eu, a negação de tudo que está além de mim e reconhecer que o Outro e não eu que desempenhará o papel principal.

Por fim, temos que considerar também que alguns fatores como o histórico, cultural, social e econômico, por exemplo, contribuirão tanto na construção desse “vir a ser” do indivíduo, como na construção do outro e também na forma em que ambos estabelecerão essa relação de intersubjetividade.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O lance dos caras não é apenas criar um produto e estimular seu consumo, mas sim gerar uma necessidade e apresentar um produto para saciar este desejo.
Fazemos parte de uma lógica de mercado onde uma boa parcela do que cobiçamos é fruto de um condicionamento.

Sabendo disso, no papel de comunicadores e "front" intelectual, não deveríamos ser o caminho para dar uma guinada nesse "mundo ilusões".

Para que continuar olhando para o lado das sobras se sabemos que existe a luz?


[DOCUMENTÁRIO] SER. Reflexões sobre liberdade, o "Eu" e sexualidade embasado nos textos de Jean-Paul Sartre

Vídeo documentário produzido pelos alunos de RTVI (Emannuel Alves, João Izidio, Júlio César e Juliana Lima) em torno da temática do "Ser" embasado nos textos e reflexões de Jean-Paul Sartre.

No documentário em forma de entrevistas, os locutores expõem suas opiniões acerca de temas variados sobre convívio social, liberdade - até onde vai a liberdade, e se a liberdade de um afeta o outro - respeito as diferenças, reflexões em torno do "Eu" e a sexualidade. O material tem 14min39seg e em seus depoimentos apresenta visões diferentes das temáticas apresentadas acima.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Construção da Identidade nacional brasileira




Durante a procura de textos sobre Identidade cultural, encontrei um texto muito interessante chamado Identidade Cultural, Identidade Nacional no Brasil, da socióloga Maria Isaura de Queiroz, e uma parte do texto que me chamou bastante atenção foi a importância de Mário de Andrade e Oswaldo de Andrade para a formação do conceito de identidade nacional que temos até hoje.
A concepção da identidade nacional no Brasil por muito tempo foi difusa, pois muitos intelectuais não acreditavam que uma disparidade de culturas e patrimônios culturais pudessem formar uma identidade forte e determinante. Mas na segunda década do século XX, uma concepção oposta a essa foi sendo pré-estabelecida por ideias consideradas revolucionarias na época. Ideias essas que foram divulgadas por jovens pensadores na chamada Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922. Os dois nomes que surgiram nesse evento, e que ajudaram a “forjar” uma outra maneira de conceber o problema da identidade nacional, mesmo não sendo cientistas, ou estudantes da área, conseguiram promover uma reviravolta nas maneiras de ver o conceito.
Um dos nomes, Mário de Andrade (1893-1945), conseguiu definir a nossa identidade, nossa “brasilidade” – como ele mesmo gostava de chamar – principalmente em seu livro Macunaíma, onde construiu um herói que reúne ao mesmo tempo as qualidades africanas, aborígenes e europeias, todas semelhantes em valor. Ele com isso buscava demonstrar que a originalidade e a riqueza da cultura brasileira provem da multiplicidade de suas raízes e da mistura de elementos. Essa forma de abordar identidade brasileira era totalmente diferente do que se era afirmado na época. O outro grande nome foi o do escrito e ensaísta Oswald de Andrade (1890-1954). Ele, por sua vez, contribui para a aceitação nacional através da teoria da Antropofagia. Nela, Oswald explica como se opera a fusão dos elementos culturais diferentes, que são “forçados” a se misturar, garantindo originalidade e beleza à “nova cultura resultante”.
O que é mais interessante nisso tudo, é que o resultado do que os dois escritores fizeram, tem elementos que se interlaçam e se completam, e principalmente vão totalmente contra as teorias vigentes dos pesquisadores da época. Com a ideia dos dois, o novo conjunto de noções foram mudando aos poucos a velha maneira de pensar. Mas, claro, sempre existiram críticas desfavoráveis aos autores.