quinta-feira, 6 de março de 2014

Somos um



Durante toda a minha vida aprendi que Deus é um Ser que está no céu, em um lugar específico e inalcansável. Mas tenho lido, até na própria bíblia, que Deus está dentro de mim, está na natureza, fora dela e que Ele não faz nada para mim. Ele se revela através de mim. E quem espera o contrário acaba por se sentir magoado e termina por acreditar que não existe Criador (Eva Pierrakos, 1935). Até pouco tempo eu não consiguia entender isto. Eu simplesmente não consiguia me desapegar daquele Deus externo que sempre me vigiou e que eu olhava para o céu quando orava a Ele. Eu O via como um Ser tão apartado de mim, tão fora do meu mundo como são meus pais e irmãos. Isso me incomodava e durante muito tempo tentei me desfazer dessa idéia inicial.

Certa manhã, enquanto caminhava na praia, refleti muito sobre este assunto. Penso que cheguei numa peça fundamental do nosso quebra-cabeça existencial: fomos separados de Deus há muitos séculos e obrigados a acreditar que para estar com Ele precisamos passar por muitos seres que fazem uma intermediação entre nós pobres mortais e Ele Luz eternamente criadora. Para que isso fosse conseguido de forma eficiente, os que sustentam esta teoria edificaram imensos templos cheios de mistérios e silêncios onde nos sentimos tão pequenos e indefesos que nunca ousaríamos pensar que somos espelhos do Divino.

Criaram também dogmas, leis, textos que foram martelados anos a fio até esculpirem em nossas mentes padrões de distanciamento... culpa, penitência, pesar... que nos fizeram acreditar que somos inferiores, nos afastando de nossa origem, materializando a vida e desprezando nosso próprio corpo, não reconhecendo nele o poder da Criação. Quantos morreram em nome destes dogmas?! Quanto poder econômico se construiu em nome destas crenças?! Quantas guerras são iniciadas em nome de Deus?! Percebi, então, que ainda somos todos vítimas deste processo criminoso. Eles conseguiram convencer você de que Deus é um Ser que mora longe de você e que para falar com ele você precisa olhar para o céu e imaginar que entre vocês dois há uma distância tão gigantesca que nunca será possível alcançá-lo. Não só eu acreditava nisso. Milhares de pessoas em todo o mundo acreditam ainda neste Deus que povoava a minha mente. Neste Deus vingativo e punitivo que nos corta as pernas toda vez que queremos saltar para o colo dele sem pagar pedágio aos guardiões das religiões.

Deus não criou estas leis. Quem as criou foram os homens. Os mesmos homens que transformaram a alegoria do inferno em algo palpável e a espalhou sobre a Terra e que nos ensinaram a valorizar a cobiça, que instigaram a inveja, o ódio, a competição feroz pelo ouro, a falta de ética e de amor pela natureza sob todas as suas formas e, sobre tudo a vigança e o não amor ao próximo. Nossa existência é divina, apesar de nossa insistência em ignorar nossa divindade. Ela, que é a inteligência, vê cada um de nós, ouve-nos e fala conosco de dentro de nós. Passamos pela vida formalizando apenas nosso raciocínio, nossa memória periférica, egóica, ignorando questões complexas que a razão não atinge... Se não temermos assumir o divino, a nossa história pessoal se realizará com harmonia e sincronicidade. Aí sim será possível compreender, saber e criar.

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