quinta-feira, 6 de março de 2014

Namaste




Deus, ou o Espírito Criador; o Grande Arquiteto da Maçonaria, o Aion teleos, ou Mônada dos Gnósticos. A Primeira Causa, a hipótese necessária na qual se ligam todas as teorias. O Homem, ou Espírito Criado, cuja a vida aparentemente começa e termina, mas cujo o pensamento (alma) é imortal. O Mediador, ou Cristo homem, Deus humanizado pelo trabalho e pela dor. “O homem, nada podendo conceber acima de si mesmo, idealiza-se para conceber Deus.” (Alphonse Louis Constant. 1810-1875). Cristo, por seus pensamentos e virtudes, realizou este ideal. É através do Cristo que se deve estudar Deus; ele que é, também, o modelo da humanidade. E quem é Cristo se não o Homem?

“O homem é o filho de Deus, porque Deus, manifestado, é chamado o filho do homem. Foi depois de ter feito Deus em sua inteligência e seu amor que a humanidade compreendeu o verbo sublime que disse: ‘Faça-se a luz!’” (Alphonse Louis Constant. A Ciência dos Espíritos.)

Quando buscamos nos conhecer, acabamos por conhecer o outro. Tomamos noção de quem somos nós quando compreendemos quem é o outro. Segundo Leopoldo e Silva, a busca da identidade (conhecimento de si) é ao mesmo tempo a tentativa de conhecer o outro. Como explica Santo Agostinho em suas Confissões (354-430), um itinerário para Deus é também uma trajetória em que o indivíduo vai ao encontro de si. Quando se volta para si (para a sua interioridade), o ser humano encontra Deus na própria alma: é a conversão. A razão para esta afirmação é que, segundo Santo Agostinho, Deus habita o mais profundo de nossa alma. É olhando para dentro que se pode encontrar a si mesmo e a Deus.

Entre mim e Deus, no entanto, a relação é de alteridade. Por alteridade entendemos que é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e é interdepende do outro. A existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro. E não há nada mais antagônico e oposto do que a relação entre um ser finito (criatura) e um ser infinito (o criador). Deus é o Outro Absoluto. Então, como explicar, mesmo com toda essa diferença, a convergência da busca de si e de Deus? Talvez a resposta para essa questão encontre-se na criatura. Deus, como criador, é a causa maior da minha existência e não posso descobrir quem sou sem me referir a Ele. Partindo desta lógica (que provenho de Deus), logo minhha identidade finita transcende além de mim em direção a este Outro Absoluto e infinito e se realiza completamente por ser Ele a razão do meu ser. Só me encontro verdadeiramente econtrando a Deus, porque minha identidade está nele.

Descartes reflete sobre esse paradoxo quando diz “penso, logo existo”; o que sou bem como o que posso saber de mim se completam no encontro com o Outro (Deus). A filosofia de Descartes encontrou a ideia de infinito, que possui uma característica própria de ser maior que a própria mente que a pensa e a conceitua e que, portanto, não poderia ter sido produzida pela consciência de um ser finito. Ao constatar a própria existência, não nos deparamos com outras consciências igualmente finitas, mas a Deus, o Outro Absoluto e infinito. Isto porque eu mesmo, ser finito, poderia ter criado correspondências igualmente finitas, uma vez que são compatíveis comigo em grandeza. Eis a razão pela qual não chego a Deus através dos outros, mas posso chegar aos outros através de Deus. Na logica de Descartes, o Outro (que é Deus) vem antes do outro que seria outro eu finito.

Diferente de Santo Agostinho, onde encontramos em nós a presença de Deus, em Descartes encontramos a marca de Deus em nós, a sua ideia, o sinal que Ele deixa em nós para que possamos encontrá-lo. E esse sinal é mais claro que a representação de outros seres com os quais compartilhamos a mesma natureza finita.

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